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A Corrida por Fundos ESG: Vale a Pena Investir em Sustentabilidade?


15/02/2025 11:43

Feito por Júlia Siqueira

Foto de Alexander Abero na Unsplash

Você já parou para pensar que seu dinheiro pode fazer muito mais do que apenas gerar retorno financeiro? Hoje, enquanto o planeta enfrenta desafios climáticos cada vez mais graves e a sociedade busca soluções para problemas como desigualdade e má gestão corporativa, surge uma pergunta importante: podemos usar nossos investimentos para construir um mundo melhor e ainda assim ganhar dinheiro?

A corrida por fundos ESG está cada vez mais acelerada no mercado financeiro global. Investidores de todos os tamanhos, desde grandes bancos até pessoas comuns como você e eu, estão olhando com mais atenção para empresas que se preocupam com o meio ambiente, com as pessoas e com a forma como são administradas. Mas será que vale mesmo a pena colocar nosso dinheiro nesses investimentos?

Neste artigo, vamos conversar de forma simples e direta sobre esse assunto que parece complicado, mas na verdade está mais próximo do nosso dia a dia do que imaginamos. Vamos entender juntos o que são esses fundos ESG, por que eles estão ganhando tanta atenção e, principalmente, se eles podem ser uma boa opção para o seu bolso e para o planeta.

O que são os fundos ESG e por que estão na boca de todo mundo?

Vamos começar pelo nome estranho: ESG. Essas três letras vêm do inglês e significam Environment (meio ambiente), Social (pessoas e sociedade) e Governance (como as empresas são governadas). Em português, chamamos de ASG (Ambiental, Social e Governança). Mas não se preocupe com o nome - o importante é entender a ideia.

Imagine que você está escolhendo uma empresa para trabalhar. Você provavelmente vai querer saber se ela trata bem os funcionários, se não polui o meio ambiente e se é bem administrada, certo? Os fundos ESG fazem exatamente isso, só que para decidir onde investir dinheiro.

Um fundo ESG é como uma cesta que reúne ações ou outros investimentos de empresas que se destacam nesses três aspectos:

Ambiental (E): São empresas que cuidam do planeta. Elas podem, por exemplo, reduzir suas emissões de carbono, economizar água, usar energia renovável ou ter processos que não geram muito lixo.

Social (S): Aqui o foco são as pessoas. São empresas que respeitam seus funcionários, clientes e as comunidades onde atuam. Elas podem promover diversidade, pagar salários justos ou apoiar projetos comunitários.

Governança (G): Isso tem a ver com a forma como a empresa é administrada. São negócios com regras claras, que combatem a corrupção, que têm diversidade na direção e que são transparentes com suas informações.

Esses fundos estão na boca de todo mundo porque representam uma mudança na forma de pensar sobre investimentos. Antes, as pessoas só queriam saber quanto iam ganhar. Agora, muita gente também quer saber se seu dinheiro está fazendo bem ou mal para o mundo.

Por que essa corrida começou? O despertar da consciência

Você já notou como as pessoas estão mais preocupadas com o meio ambiente nos últimos anos? Como tem mais gente separando o lixo, usando menos plástico, preocupada com o aquecimento global? Isso também chegou ao mundo dos investimentos.

Alguns motivos importantes para essa corrida por fundos ESG:

Mudanças climáticas cada vez mais evidentes: De enchentes a secas extremas, estamos sentindo os efeitos na pele. Isso fez muita gente perceber que precisamos mudar a forma como fazemos negócios.

Novas gerações mais conscientes: Jovens investidores, principalmente millennials e geração Z, querem que seu dinheiro reflita seus valores.

Escândalos corporativos: Casos de corrupção, trabalho escravo ou desastres ambientais mostraram que empresas mal administradas podem causar grandes prejuízos - tanto financeiros quanto para a sociedade.

Pandemia como alerta: A COVID-19 mostrou como estamos todos conectados e como empresas que cuidam bem das pessoas tendem a ser mais resilientes em crises.

Como explicou Larry Fink, CEO da BlackRock (uma das maiores gestoras de investimentos do mundo): "A consciência sobre clima está mudando rapidamente, e acredito que estamos à beira de uma transformação fundamental das finanças".

Investir em fundos ESG realmente faz diferença para o planeta?

Esta é uma pergunta que muita gente faz, e com razão. Afinal, colocar dinheiro em um fundo realmente muda alguma coisa no mundo real? A resposta é: sim, pode mudar, e vou te explicar por quê.

Quando você investe em fundos ESG, três coisas importantes acontecem:

1. Você direciona capital para empresas responsáveis: É como votar com seu dinheiro. Quanto mais pessoas investem em empresas sustentáveis, mais capital elas têm para crescer e desenvolver soluções melhores.

2. Você manda um recado para o mercado: Quando fundos ESG crescem, as outras empresas percebem que precisam melhorar suas práticas se quiserem atrair investidores.

3. Você ajuda a financiar a transição para uma economia mais verde: Muitas empresas nos fundos ESG estão desenvolvendo tecnologias que podem ajudar a combater problemas como a crise climática.

Um estudo da Morgan Stanley descobriu que o investimento sustentável direcionou mais de $30 trilhões globalmente para causas ambientais e sociais. Isso é muito dinheiro que pode fazer muita diferença!

Porém, é importante dizer: nem todo fundo ESG é igual. Alguns são realmente rigorosos e escolhem apenas empresas com ótimas práticas. Outros são mais flexíveis e podem incluir empresas que estão apenas começando a melhorar. Por isso, se você quer realmente fazer diferença, vale a pena pesquisar bem antes de investir.

O problema do "greenwashing": quando o verde é só de fachada

Aqui precisamos falar de um problema sério: o greenwashing (ou "maquiagem verde", em português). É quando uma empresa ou um fundo se diz sustentável, mas na prática faz pouco ou quase nada pelo meio ambiente ou pela sociedade.

Alguns sinais de alerta para ficar de olho:

Propaganda exagerada: Quando o marketing fala muito de sustentabilidade, mas os relatórios da empresa mostram poucos resultados concretos.

Falta de transparência: Fundos que não explicam claramente como escolhem as empresas ou que não divulgam a lista completa de onde investem.

Contradições: Um fundo que se diz ambiental mas investe pesadamente em combustíveis fósseis, por exemplo.

Como investidor, você pode se proteger do greenwashing pedindo mais informações sobre os fundos, lendo seus relatórios e verificando se eles têm certificações independentes. Sites como o Morningstar também oferecem avaliações de sustentabilidade para fundos, o que pode ajudar na sua decisão.

Como disse Fiona Reynolds, da PRI (Princípios para o Investimento Responsável): "Precisamos de mais transparência e padronização para evitar o greenwashing e garantir que o dinheiro realmente vá para onde é mais necessário".

Dá para ganhar dinheiro investindo em fundos ESG?

Essa é a pergunta que muita gente faz, e com razão. No final das contas, investir é também sobre fazer nosso dinheiro crescer, certo? Vamos aos fatos.

Por muito tempo existiu o mito de que investir com consciência significava ganhar menos. Mas estudos recentes têm mostrado uma história diferente:

Desempenho comparável ou melhor: Pesquisas da Morningstar mostram que muitos fundos ESG têm performado tão bem quanto ou até melhor que fundos tradicionais em diversos períodos.

Mais resistência em crises: Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, vários fundos ESG caíram menos que o mercado geral. Isso porque empresas bem geridas e responsáveis tendem a se preparar melhor para riscos.

Visão de longo prazo: Empresas que pensam nos impactos ambientais e sociais geralmente estão mais preparadas para desafios futuros, como regulações mais rígidas sobre carbono ou mudanças nos hábitos dos consumidores.

Um estudo feito pelo National Bureau of Economic Research analisou mais de 2.000 estudos sobre o tema e concluiu que, na maioria dos casos, considerar fatores ESG tem impacto positivo ou neutro nos retornos financeiros.

Claro que, como em qualquer investimento, existem riscos. Alguns fundos ESG podem ser mais caros (têm taxas mais altas) porque exigem mais pesquisa. Outros podem ser muito concentrados em certos setores, o que pode aumentar a volatilidade.

A boa notícia é que, com o crescimento desse mercado, hoje existem opções para diferentes perfis de investidor, desde os mais conservadores até os mais arrojados.

Histórias reais: quem está ganhando com ESG?

Para tornar isso mais concreto, vamos ver alguns exemplos de fundos ESG que têm se destacado:

Exemplo 1: No Brasil, o fundo de ações Ethical II da Santander Asset teve retorno de 33% em 2020, enquanto o Ibovespa (principal índice da bolsa brasileira) teve alta de apenas 2,9% no mesmo período.

Exemplo 2: Nos EUA, o Parnassus Core Equity Fund, um dos mais antigos fundos ESG do mundo, superou o S&P 500 (principal índice americano) em diversos períodos de 3, 5 e 10 anos.

Exemplo 3: Na Europa, onde os investimentos ESG são mais maduros, vários fundos sustentáveis figuraram entre os mais rentáveis de suas categorias durante a última década.

Porém, é importante lembrar que resultados passados não garantem retornos futuros. Como em qualquer investimento, é preciso analisar bem, diversificar e pensar no longo prazo.

Como começar a investir em fundos ESG (mesmo com pouco dinheiro)

Se você se animou com a ideia de investir em fundos ESG, tenho boas notícias: hoje é mais fácil e acessível do que nunca começar, mesmo com pouco dinheiro. Vamos ver como:

Primeiros passos para quem nunca investiu em ESG

1. Defina o que é importante para você: Você se preocupa mais com mudanças climáticas, diversidade nas empresas ou transparência? Isso vai ajudar a escolher fundos que se alinhem com seus valores.

2. Escolha uma plataforma de investimentos: Hoje, praticamente todas as corretoras e bancos oferecem opções de fundos ESG. Algumas plataformas como Nubank, XP Investimentos e BTG Pactual digital têm até seções dedicadas a investimentos sustentáveis.

3. Comece com ETFs ou fundos de índice: São opções mais baratas e diversificadas. No Brasil, por exemplo, existe o ETF ISUS11, que segue o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3.

4. Leia a lâmina do fundo: Este documento mostra o histórico de rentabilidade, as taxas cobradas e a política de investimento. Verifique se o fundo realmente segue critérios ESG rigorosos.

5. Comece com pouco: Muitos fundos permitem começar com R$100 ou menos. À medida que você for aprendendo mais, pode aumentar o valor investido.

Você também pode considerar investir diretamente em ações de empresas com boas práticas ESG. Sites como o da B3 mostram quais empresas fazem parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial.

Erros comuns que você deve evitar

Ao entrar nesse mundo dos investimentos ESG, fique atento para não cair nestas armadilhas:

Investir só pelo "selo verde": Não escolha um fundo apenas porque ele se diz sustentável. Verifique se a rentabilidade e as taxas fazem sentido para você.

Ignorar as taxas: Alguns fundos ESG cobram taxas mais altas. Verifique se elas são justificáveis pelo desempenho e pelo trabalho de análise.

Não diversificar: Mesmo dentro do universo ESG, é importante ter investimentos em diferentes setores e classes de ativos.

Expectativas irreais: Não espere que todo fundo ESG vai "salvar o mundo" ou sempre bater o mercado. Seja realista sobre o que esses investimentos podem entregar.

Como disse John Bogle, fundador da Vanguard: "Investir não é apenas sobre retorno financeiro, mas também sobre construir o tipo de mundo onde queremos viver".

O futuro dos fundos ESG: tendências que você precisa conhecer

O mundo dos investimentos ESG está em constante evolução. Entender as tendências pode ajudar você a tomar melhores decisões de investimento e a se preparar para o futuro. Vamos ver o que vem por aí:

O ESG vai virar o "novo normal"

Especialistas acreditam que, em breve, praticamente todos os fundos terão que considerar critérios ESG de alguma forma. Não será mais um "diferencial", mas sim uma exigência básica.

Isso está acontecendo por várias razões:

Regulações mais rígidas: Governos em todo o mundo estão criando regras que obrigam empresas e fundos a divulgarem seus impactos ambientais e sociais.

Pressão dos investidores: Cada vez mais pessoas querem saber onde seu dinheiro está sendo aplicado e quais os impactos.

Riscos reais: Eventos climáticos extremos, processos por discriminação ou escândalos de corrupção mostram que ignorar fatores ESG pode custar muito caro.

Como afirmou Mark Carney, ex-presidente do Banco Central da Inglaterra: "As empresas que ignorarem a transição para uma economia de baixo carbono serão punidas pelo mercado e, eventualmente, falirão".

Tecnologia e dados cada vez mais importantes

Uma das críticas aos investimentos ESG é a falta de padrões claros e dados confiáveis. Isso está mudando rapidamente:

Inteligência artificial: Algoritmos estão sendo usados para analisar relatórios, notícias e dados não estruturados para avaliar melhor as práticas ESG das empresas.

Blockchain: Esta tecnologia pode criar registros imutáveis e transparentes sobre a origem de produtos, condições de trabalho e impactos ambientais.

Padrões globais: Organizações como o SASB (Sustainability Accounting Standards Board) e o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) estão criando padrões que facilitam a comparação entre empresas.

Essas inovações vão tornar os investimentos ESG mais precisos e confiáveis, reduzindo o risco de greenwashing.

Novos temas ganhando destaque

Enquanto as preocupações ambientais dominaram a primeira onda de fundos ESG, novos temas estão ganhando importância:

Justiça social e racial: Após movimentos como o Black Lives Matter, mais fundos estão avaliando como as empresas lidam com diversidade e inclusão.

Saúde e bem-estar: A pandemia mostrou a importância de sistemas de saúde robustos e de empresas que cuidam da saúde física e mental de seus funcionários.

Biodiversidade: A perda de espécies e habitats está sendo reconhecida como um risco tão grave quanto as mudanças climáticas.

Economia circular: Empresas que redesenham seus produtos para eliminar resíduos e poluição estão chamando a atenção dos investidores.

Segundo Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial: "Estamos entrando em uma era onde as empresas serão cada vez mais julgadas por sua contribuição para a sociedade, não apenas por seus lucros".

Conclusão: Fundos ESG são para você?

Depois de toda essa conversa sobre fundos ESG, chegamos à pergunta final: vale a pena para você investir em sustentabilidade? A resposta, como para muitas coisas na vida, é: depende.

Se você se preocupa com o futuro do planeta e da sociedade, e quer que seu dinheiro reflita seus valores, os fundos ESG podem ser uma ótima opção. Os dados mostram que é possível investir de forma responsável sem abrir mão de bons retornos financeiros.

Por outro lado, é importante ser realista. Um único investidor não vai resolver todos os problemas do mundo, e ainda existem desafios como o greenwashing e a falta de padrões universais.

Minha sugestão é começar aos poucos. Experimente alocar uma pequena parte dos seus investimentos em fundos ESG bem avaliados ou em empresas com práticas sustentáveis comprovadas. À medida que você for se sentindo mais confortável e vendo resultados, pode aumentar essa alocação.

O mais importante é lembrar que investir em ESG não é uma moda passageira, mas sim parte de uma transformação profunda no mundo dos investimentos. Como disse Larry Fink da BlackRock: "O risco climático é risco de investimento", e ignorar essas mudanças pode ser prejudicial para seu bolso no longo prazo.

Independentemente da sua decisão, o simples fato de você estar se informando sobre o tema já é um passo importante. Afinal, investidores conscientes e bem informados são fundamentais para construirmos um sistema financeiro que trabalhe não apenas para o lucro imediato, mas também para um futuro sustentável para todos.

Resumo dos principais pontos sobre fundos ESG

• Fundos ESG consideram fatores ambientais, sociais e de governança nas decisões de investimento

• Estudos mostram que investir em ESG pode trazer retornos competitivos ou até superiores aos fundos tradicionais

• O mercado de investimentos sustentáveis está crescendo rapidamente e deve se tornar o "novo normal" nos próximos anos

• É possível começar a investir em ESG com pouco dinheiro, através de ETFs ou fundos com aplicação mínima baixa

• O greenwashing é um risco, por isso é importante pesquisar bem antes de investir

• Novas tecnologias e padrões estão tornando os investimentos ESG mais transparentes e confiáveis

• Além das questões ambientais, temas como diversidade, saúde e bem-estar estão ganhando destaque

• O investimento ESG é uma forma de alinhar seus valores pessoais com suas decisões financeiras

Links úteis para aprofundar seus conhecimentos sobre fundos ESG

PRI - Princípios para o Investimento Responsável: Organização apoiada pela ONU que trabalha para promover investimentos responsáveis

Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3: Mostra as empresas brasileiras com melhores práticas de sustentabilidade

MSCI ESG Ratings: Uma das principais agências que avaliam empresas segundo critérios ESG

Morningstar Sustainability Rating: Ferramenta que ajuda a avaliar o perfil de sustentabilidade de fundos de investimento




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